quarta-feira, 20 de abril de 2011

O atirador de Realengo

Ninguém tem dúvida, foi um acontecimento bárbaro, uma tragédia capaz de comover até os mais frios corações, a notícia do atirador de Realengo. Falar que alguém tenha invadido uma escola e atentado contra a vida de estudantes já não é novidade, fora do Brasil; aqui o povo não está habituado a este tipo de violência, assalto à mão armada, sequestro, abuso de poder e corrupção sim, mas atiradores loucos que invadem escolas ninguém ouvira falar.

Sim, foi terrível a tragédia no Rio de Janeiro e por isso precisa ser lembrado para que as autoridades possam se preparar melhor para esse tipo de atitude bárbara. Essa é a ideia. Agora, o que não faz sentido é a forma como os meios de comunicação, principalmente a internet, se apropriam disso para prolongar ao máximo os dividendos da notícia. O horror é vivido e revivido à exaustão, as imagens do assassino são expostas diversas vezes em várias situações possíveis de forma a banalizá-lo por superexposição: várias reportagens, o histórico completo, o perfil psicológico, a casa pinchada, a opinião do doutor e do vizinho, o sofrimento de cada envolvido, a carta, uma análise da carta, a missa e por vezes novas imagens do atirador (fazendo pose) ou mesmo novos vídeos do atirador e tudo isso e muito mais na internet com as devidas propagandas que ali couberem e até mesmo um link dedicado ao tema. E assim vai, enquanto a notícia vender.

Até que ponto o horror é mercadoria? Até que ponto isso atrai? Onde fica a ética? Primeiro, parece existir um interesse natural por esse tipo de assunto, uma vez que o fato acontece e é tido por bizarro passa a ser superinteressante para uma parcela significante de pessoas. Essa é a demanda existente para esse tipo de assunto. O bizarro é tanto uma pessoa cometer uma barbaridade desumana, quanto o interesse desmedido dos humanos pelo horror. Segundo, somos atraídos por isso até o limite de nossa consciência, onde fica isso, porém, é impreciso. Banalizar a informação parece o ato mais consciente daqueles que lucram com isso e a consciência disso não é interessante para esse mercado. Por fim, em terceiro, a ética pouco existe nesse mundo da comunicação que deveras não comunica quase nada, seu serviço maior é consigo, inflar o absurdo, que já chama atenção in natura, até o ponto em que não se possa mais tirar lucros do horror.

Essa é a banalização da barbárie. Um desserviço de certos veículos de comunicação que, ao contrário de informar e possibilitar alguma crítica, se isso ainda é possível, aproveitam-se da situação para extrair da violência uma grana a mais, afinal, negócios são negócios.

E o pior é ainda ter que escrever sobre isso.

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