quarta-feira, 27 de abril de 2011

O (Re)encontro

Aconteceu em minha cidade uma história que parece ficção, o que não é de todo estranho posto que muitas ficções pareçam reais.

Fulana (guardo o nome por resguardo) foi dada para ser criada ainda muito nova, ela e seus irmãos, não sei quantos eram, nunca conheci Fulana de fato, de seus pais sabia ela os nomes e a profissão.

Fulana, cresceu, arrumou emprego, arrumou marido e filhos e foi morar no interior do Estado. O marido de Fulana resolveu (como se isso fosse resolvido) ter, num belo dia, uma irritação nas conjuntivas, ou seja lá o que for, não li seu laudo, e saíram para a cidade grande.

Fulano (guardo o nome pelo mesmo resguardo), morador de uma outra cidadezinha no interior daquele mesmo Estado,fora dado para criar muito novo, nunca conhecera os pais. Sabia que trabalhavam no circo e conhecia, sabe-se lá como, o nome da mãe. Nada mais Fulano sabia de si, melhor dizendo, dos seus. Certo dia, fulano resolve ter uma irritação na conjuntiva...

Em um grande hospital, responsável pelo atendimento de um grande município, numa das salas de espera, no setor de oftamologia, Fulana aguardava a vez de seu marido ser atendido. Era uma quinta-feira, de um dia qualquer, cujo marido tinha hora marcada. Fulana repara em um homem, curiosamente. O tempo passa. A assistente abre a porta e anuncia um nome completo. Fulano Brotado da Silva. Fulana foi tomada num sobressalto. O homem caminhou sob olhos curiosos até a porta do oftalmologista. Na saída o encontro:

- Olá, você se chama Fulano Brotado da Silva?
- Sim! Ele repara aquela mulher com curiosidade.
- Que nem eu! Meus sobrenomes! Emocionada. Qual o nome de seus pais?
- De minha mãe é Rovena Brotado da Silva. De meu pai não sei, eles trabalhavam em circo.
- Era Sebastião.

O homem, surpreso com a revelação, viu uma irmã nascer diante dele aos trinta e seis anos de idade, formada, pronta e inacabada como todos. Ela sabia que tinha um irmão, ele nada sabia dos seus, até aquele momento. Dessa surpresa da vida, uma nova aventura, encontrar os outros irmãos perdidos. O desfecho dessa história, ainda não foi escrito.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O atirador de Realengo

Ninguém tem dúvida, foi um acontecimento bárbaro, uma tragédia capaz de comover até os mais frios corações, a notícia do atirador de Realengo. Falar que alguém tenha invadido uma escola e atentado contra a vida de estudantes já não é novidade, fora do Brasil; aqui o povo não está habituado a este tipo de violência, assalto à mão armada, sequestro, abuso de poder e corrupção sim, mas atiradores loucos que invadem escolas ninguém ouvira falar.

Sim, foi terrível a tragédia no Rio de Janeiro e por isso precisa ser lembrado para que as autoridades possam se preparar melhor para esse tipo de atitude bárbara. Essa é a ideia. Agora, o que não faz sentido é a forma como os meios de comunicação, principalmente a internet, se apropriam disso para prolongar ao máximo os dividendos da notícia. O horror é vivido e revivido à exaustão, as imagens do assassino são expostas diversas vezes em várias situações possíveis de forma a banalizá-lo por superexposição: várias reportagens, o histórico completo, o perfil psicológico, a casa pinchada, a opinião do doutor e do vizinho, o sofrimento de cada envolvido, a carta, uma análise da carta, a missa e por vezes novas imagens do atirador (fazendo pose) ou mesmo novos vídeos do atirador e tudo isso e muito mais na internet com as devidas propagandas que ali couberem e até mesmo um link dedicado ao tema. E assim vai, enquanto a notícia vender.

Até que ponto o horror é mercadoria? Até que ponto isso atrai? Onde fica a ética? Primeiro, parece existir um interesse natural por esse tipo de assunto, uma vez que o fato acontece e é tido por bizarro passa a ser superinteressante para uma parcela significante de pessoas. Essa é a demanda existente para esse tipo de assunto. O bizarro é tanto uma pessoa cometer uma barbaridade desumana, quanto o interesse desmedido dos humanos pelo horror. Segundo, somos atraídos por isso até o limite de nossa consciência, onde fica isso, porém, é impreciso. Banalizar a informação parece o ato mais consciente daqueles que lucram com isso e a consciência disso não é interessante para esse mercado. Por fim, em terceiro, a ética pouco existe nesse mundo da comunicação que deveras não comunica quase nada, seu serviço maior é consigo, inflar o absurdo, que já chama atenção in natura, até o ponto em que não se possa mais tirar lucros do horror.

Essa é a banalização da barbárie. Um desserviço de certos veículos de comunicação que, ao contrário de informar e possibilitar alguma crítica, se isso ainda é possível, aproveitam-se da situação para extrair da violência uma grana a mais, afinal, negócios são negócios.

E o pior é ainda ter que escrever sobre isso.